quarta-feira, 12 de outubro de 2011

Poetas suecos: Artur Lundkvist

Escandinávia
Não. A Escandinávia não é como a maioria imagina,
nem sequer no Inverno.
Algum escandinavo utiliza a palavra ártico?
Muitos nem sabem o que significa.
A aurora boreal é mais frequente nos poemas que na realidade
e os cornos dos alces já não rasgam a névoa
que descansa sobre o sono das cidades de província.
As cascatas evitam o frio
ocultando-se em suas grutas de gelo
(vejo-as fumegar como quando o comboio
desaparece no túnel).
Tão pouco se vê ameaçada de congelação
a água sensível dos olhos
(ainda que os caminhos permaneçam cobertos de gelo
podemos patinar por eles de uma povoação a outra).
Ah mas repara como as estacas desaparecem debaixo da neve,
como essa casa de madeira azul cobalto
mostra os seus três pisos de janelas incandescentes
como se ardesse por dentro.
Repara na solitária locomotiva abrindo caminho por entre a neve –
o acidente não seria muito grave se descarrilasse
e ficasse encostada a um montão de neve
gelando lentamente.
Uma raposa pode permanecer horas e horas sentada
olhando os frutos da rosácea;
ou deixar-se ficar pacientemente esperando
que um raro regresse da sua toca na neve.
O mocho, com os seus pálidos olhos de âmbar, voa tão silencioso
que a paisagem parece surda.
Muitos são os pássaros que saem dos bosques invernais
para morrer junto aos homens.
E quando o verão desperta podemos descobrir
um formigueiro construído à volta de uma luva perdida.


Artur Lundqvist



O poema foi transcrito de:
Hatherly, A. e Graça Moura, V. (coords.) (1981). 21 Poetas suecos. Lisboa: Vega.

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