terça-feira, 5 de janeiro de 2010

Poema da semana

Poema de andar à roda

E nem podia ser de outra maneira.

Como as ondas do mar que vão e vêm
pela atracção da Lua,
outras ondas se alteiam, atraídas
por outras luas, satélites do rosto.
Enquanto umas de amor cobrem as praias
e as penetram de espuma,
estas não amam, não molham, não se esgotam.
Mudam de cor, apenas.

Vêm de dentro e sobem, num conflito
sem tréguas nem fraquezas,
deixando o rosto esfarelado e seco
como os desertos quando o vento sopra.
Correndo a mão p'la barba, molemente,
como quem passa o tempo sem cuidados,
disfarça-se o rugir da onda brava
enquanto as luas
pedras brutas sem vida nem remorso,
friamente percorrem suas órbitas
como se disso fossem  conscientes.

E assim correm os dias, tão pacatos
como os das bordadeiras, debruçadas
sobre os seus bastidores.
Com as linhas de cor fazem figuras
harmoniosas, ornatos inocentes,
tão sérias e absortas
como se a vida toda ali estivesse,
o passado, o presente e o futuro,
na ponta de uma agulha.
São seres exemplares, as bordadeiras.
Quando se picam
chupam de leve a gota que desponta,
ensalivam-na, engolem-na e prosseguem,
distraídas e atentas.

E nem podia ser de outra maneira.

Como as ondas do mar que vão e vêm
pela atracção da Lua,
outras ondas se alteiam, atraídas
por outras luas, satélites do rosto.
Enquanto umas de amor cobrem as praias
 e as penetram de espuma,
estas não amam, não molham, não se esgotam.
Mudam de cor, apenas.
Vêm de dentro e sobem, num conflito
sem tréguas nem fraquezas,
deixando o rosto esfarelado e seco
como os desertos quando o vento sopra.

...

António Gedeão

Sem comentários: