segunda-feira, 14 de fevereiro de 2011

O BESTIÁRIO DA BESC (3)

A CABRA

A cabra transmite à terra o que sabe
presa à sua sombra, chuvosa, a cabra
quebra o silêncio das raízes, rumina
as fezes, investe até ao fundo
contra a solidão, cata ruínas
com a mesma paixão do tempo
A cabra no escuro, tanto
lhe faz quando a noite a roce
no vento pelos úberes, os úberes
da cabra riscam a noite
de branco.

J.T. Parreira

POEMA(S) DA CABRA

(…)

Quem já encontrou uma cabra
que tivesse ritmos domésticos?
O grosso derrame do porco,
da vaca, do sono e de tédio?


Quem encontrou cabra que fosse
animal de sociedade?
Tal o cão, o gato, o cavalo,
diletos do homem e da arte?


A cabra guarda todo o arisco,
rebelde, do animal selvagem,
viva demais que é para ser
animal dos de luxo ou pajem.


Viva demais para não ser,
quando colaboracionista,
o reduzido irredutível,
o inconformado conformista.

(…)

João Cabral de Melo Neto, Obra Completa


Poemas escolhidos pelos alunos do 10º C